terça-feira, 1 de maio de 2012

QUEM TEM AMIGO DE FÉ NÃO PRECISA DE PSICÓLOGO?


Por: Angela Corrêa
Psicóloga - CRP/RJ: 05/10053

A ideia acima pode parecer óbvia para alguns, porém um tanto reflexiva para outros. Parece não haver o que pensar quando se sabe que o amigo de fé é aquele que se pode confiar os segredos mais ocultos, os problemas mais íntimos.

O amigo de fé é aquele que ouve, conforta e, certamente, diz tudo que se deseja ouvir, com as palavras que se deseja escutar.

Teoricamente até sabemos que, quando alguém nos diz o que desejamos ouvir, está nos poupando de entrar em contato com ideias nem sempre tão confortáveis, com imagens que poderiam nos tirar, muitas vezes, da acomodação e do sossego, ou reflexões que poderiam fazer-nos passar de oprimidos a opressores. E, não é isso que desejamos, embora inconscientemente seja tudo que precisamos, ainda que nos magoe, nos leve a cutucar antigas «feridas», nos remeta a uma «solidão» da qual não queremos encarar de frente porque ela traz a mensagem que pode invalidar a função do amigo, enquanto provedor do nosso equilíbrio e conhecedor profundo de nós mesmos.

E, é exatamente na hora da escolha entre o amigo de fé e o psicólogo é que surge a grande dúvida... Como admitir meu lado, nem sempre, mas algumas vezes, fraco, hostil, invejoso, medroso, incapaz, covarde ou tantas vezes, mas nem sempre, generoso, sensível, corajoso, solidário?

Nesse caminho entre o amigo de fé e o psicólogo há uma lógica que parece nos sinalizar o momento certo de desviar o rumo e reavaliar aquela opção que sempre nos pareceu inquestionável, quando o que se busca é o autoconhecimento.

A lógica nos afirma que: Todo grande amigo nos conhece de verdade. «Fulano é meu grande amigo, logo...Fulano me conhece de verdade».

É possível, eu direi muitas vezes, que meu «amigo de fé», é mais que amigo, ele é irmão, coração, afeição e conhece mais de mim do que eu mesmo, nossa amizade não conhece decepção, mágoas ou ressentimentos...

E o psicólogo? Ah... O psicólogo? Bem... É alguém que não está envolvido em nossas circunstâncias diárias.. O que sabe de nós é o que permitimos que ele saiba. Não cria expectativas em relação às nossas atitudes, não formula juízo de valores e jamais nos irá apresentar a nós mesmos, sem que queiramos conhecer a nós próprios. Não conhece nossa família, nem nossos amigos «de fé» ou «da onça», pois o perfil de cada um deles é traçado por nós, do jeito que os vemos e isso é o que importa. Não tem compromisso em nos dizer o que desejamos ouvir. Ele respeita nossa lágrima, embora não nos atenue a dor da frustração.

Nessa relação, estabelecemos naturalmente um vínculo sem melindres, sutilezas, agrados, não há troca, nem tão pouco precisamos causar boa impressão. Basta apenas dizer tudo o que pensa, sem precisar pensar naquilo que diz.

As evidências iniciais nos levam, sem grande esforço, a concluir que somente através de uma ajuda psicoterápica conseguimos confrontar e compreender os vários aspectos, na maioria das vezes inaceitáveis, da nossa real identidade.

E, à medida que nos mantemos resistentes em aceitar a ajuda de um psicólogo e procuramos um «amigo de fé» para desabafar, estabelecemos, a partir daí, uma relação paralela de ajuda espontânea, onde hoje eu é quem fala, o amigo ouve. Amanhã, eu deverei estar disponível e receptivo para ouvi-lo também, ainda que não esteja em condições para fazê-lo. Afinal uma amizade verdadeira é caracterizada pela confiança, mas é consolidada pela troca.

Mas, quando o assunto é o conhecimento de nós próprios e não somente autoproteção, a escolha nos parece óbvia...

Quando vivemos do jeito que «tem que ser» negamos o jeito que «verdadeiramente somos».    Nossos conflitos começam à medida que nossa consciência sinaliza a diferença.


Artigo produzido por psicóloga convidada pela
equipe Equilíbrio Psi



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