Por: Angela Corrêa
Psicóloga - CRP/RJ: 05/10053
A ideia acima pode
parecer óbvia para alguns, porém um tanto reflexiva para outros. Parece não
haver o que pensar quando se sabe que o amigo de fé é aquele que se pode
confiar os segredos mais ocultos, os problemas mais íntimos.
O amigo de fé é
aquele que ouve, conforta e, certamente, diz tudo que se deseja ouvir, com as
palavras que se deseja escutar.
Teoricamente até
sabemos que, quando alguém nos diz o que desejamos ouvir, está nos poupando de
entrar em contato com ideias nem sempre tão confortáveis, com imagens que
poderiam nos tirar, muitas vezes, da acomodação e do sossego, ou reflexões que
poderiam fazer-nos passar de oprimidos a opressores. E, não é isso que
desejamos, embora inconscientemente seja tudo que precisamos, ainda que nos
magoe, nos leve a cutucar antigas «feridas», nos remeta a uma «solidão» da qual
não queremos encarar de frente porque ela traz a mensagem que pode invalidar a
função do amigo, enquanto provedor do nosso equilíbrio e conhecedor profundo de
nós mesmos.
E, é exatamente na
hora da escolha entre o amigo de fé e o psicólogo é que surge a grande
dúvida... Como admitir meu lado, nem sempre, mas algumas vezes, fraco, hostil,
invejoso, medroso, incapaz, covarde ou tantas vezes, mas nem sempre, generoso,
sensível, corajoso, solidário?
Nesse caminho entre
o amigo de fé e o psicólogo há uma lógica que parece nos sinalizar o momento
certo de desviar o rumo e reavaliar aquela opção que sempre nos pareceu
inquestionável, quando o que se busca é o autoconhecimento.
A lógica nos afirma
que: Todo grande amigo nos conhece de verdade. «Fulano é meu grande amigo,
logo...Fulano me conhece de verdade».
É possível, eu
direi muitas vezes, que meu «amigo de fé», é mais que amigo, ele é irmão,
coração, afeição e conhece mais de mim do que eu mesmo, nossa amizade não
conhece decepção, mágoas ou ressentimentos...
E o psicólogo?
Ah... O psicólogo? Bem... É alguém que não está envolvido em nossas
circunstâncias diárias.. O que sabe de nós é o que permitimos que ele saiba.
Não cria expectativas em relação às nossas atitudes, não formula juízo de
valores e jamais nos irá apresentar a nós mesmos, sem que queiramos conhecer a
nós próprios. Não conhece nossa família, nem nossos amigos «de fé» ou «da
onça», pois o perfil de cada um deles é traçado por nós, do jeito que os vemos
e isso é o que importa. Não tem compromisso em nos dizer o que desejamos ouvir.
Ele respeita nossa lágrima, embora não nos atenue a dor da frustração.
Nessa relação,
estabelecemos naturalmente um vínculo sem melindres, sutilezas, agrados, não há
troca, nem tão pouco precisamos causar boa impressão. Basta apenas dizer tudo o
que pensa, sem precisar pensar naquilo que diz.
As evidências
iniciais nos levam, sem grande esforço, a concluir que somente através de uma
ajuda psicoterápica conseguimos confrontar e compreender os vários aspectos, na
maioria das vezes inaceitáveis, da nossa real identidade.
E, à medida que nos
mantemos resistentes em aceitar a ajuda de um psicólogo e procuramos um «amigo
de fé» para desabafar, estabelecemos, a partir daí, uma relação paralela de
ajuda espontânea, onde hoje eu é quem fala, o amigo ouve. Amanhã, eu deverei
estar disponível e receptivo para ouvi-lo também, ainda que não esteja em
condições para fazê-lo. Afinal uma amizade verdadeira é caracterizada pela
confiança, mas é consolidada pela troca.
Mas, quando o
assunto é o conhecimento de nós próprios e não somente autoproteção, a escolha
nos parece óbvia...
Quando vivemos do
jeito que «tem que ser» negamos o jeito que «verdadeiramente somos». Nossos conflitos começam à medida que
nossa consciência sinaliza a diferença.
Artigo produzido
por psicóloga convidada pela
equipe Equilíbrio Psi
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